Quarta-feira, 3 de Agosto de 2005
Não é bom ver os mortos regressarem ou quererem regressar. Os mortos são e estão mortos. Devia ser assim, porque há uma grande diferença entre o ser e o dever ser. Acerca dos mortos devia ser imposto não regressarem. Há uma lei física sobre isso, o tempo é irreverssível. E se o papa João Paulo II regressasse? Ou se os nossos camaradas regressassem? Se Álvaro Cunhal ou Vasco Gonçalves regressassem? Para quê? Quando morreram já estavam velhos, já não conseguiam acompanhar o mundo. estavam sem força e não compreenderiam. Aliás, o primeiro nunca conseguiu acompanhá-lo e os outros a certa altura foram ultrapassados pelo mundo, pelo desejo, pela plasticidade. Não havia nada a fazer, nem a dizer.
Soa tudo a falso, qualquer tentativa de regresso. Devemos manter um certo silêncio sobre o seu descanso, recato, deixá-los em paz, se não quiserem voltar. São mortos, não têm direito de resposta, de réplica, como se diz na política. Não se diz mal de um morto recente. Nem devemos sequer incitá-los a regressarem. Nem eles devem pensar que algum dia voltarão para reporem o filme.
Passa-se isso com Mário Soares e Cavaco, mortos que regressam, salvadores da pátria. mas que pátria? É certo que não são mortos ainda, são vivos. Mas estão mortos, já caminham para lá. Porque há uma grande diferença entre ser e estar na língua portuguesa. E ainda bem, há coisas que conseguimos compreender melhor sabendo essa diferença. Estes velhos não vão ter tempo de ver o resultado da sua acção. Não podem ser julgados. Veja-se o velho assassino, Pinochet, senil, já não se lembra de nada. E é por isso que podemos dizer que o passado vence o presente e o futuro com o seu regresso.
fernando
Segunda-feira, 1 de Agosto de 2005
fernando