Domingo, 1 de Janeiro de 2006
Não deixes que o ano findo se despeça de ti
como uma bomba lançada pelos os estados unidos da américa,
ou que o novo ano que agora começa seja mais um contrato precário com mais uma multinacional americana.
porque tu já sabes o contrário daquele poema que tu gostas,
A américa não tem ideais.
é um território sem ilusões nem utopias.
lá a verdade não é um decreto
nem a vida é verdadeira.
Porque não há mãos dadas ou confiança entre os homens.
Todos os dias da semana são de desconfiança
e muito mais cinzentos que as terças-feiras mais cinzentas que citavas.
Não há o direito de converter esses dias em manhãs de domingo.
Não existem manhãs nem domingos.
Não poderias sequer vê-las caso existissem
porque as tuas portas e janelas permanecem o dia inteiro fechadas.
Não há esperança
nem existe o reinado da justiça e da claridade.
Lá o mundo será sempre feito de mentira e redundância.
E por isso não serás livre nem construirás nada a partir dessa redundância e dessa mentira.
Os americanos continuarão a mandar no mundo.
Não pactues porque terás apenas à tua volta uma couraça de silêncio
e um cálculo matemático frio
que não te deixarão ouvir as palavras.
Elas morrerão todas depois de saírem dos dicionários
e afundar-se-ão juntamente com as beatas (de cigarro) nos interstícios da calçada da rua
calculada.
Neste pântano de mentira e de engano
tu não te sentarás à mesa com o teu olhar limpo
porque a verdade não será servida
nem antes nem depois da sobremesa.
Não será o jantar nem o café que tu tomas.
Não haverá comida nem café com o mesmo gosto da aurora.
Haverá saudade e tristeza em vez de alegria para sempre.
Essa será a tua bandeira generosa.
A tua maior dor.
O teu suor não trará pão para o Homem
porque lá o homem é um animal que se vinga no outro homem.
Não esqueças que só lá o ódio será belo no teu mundo.
Serás obrigado a proibires-te de brincar,
inclusive com os tais rinocerontes que temes estarem já extintos.
Caminharás pelas tardes sem flores para empunhar.
e internar-te-ás numa noite qualquer onde o medo te assaltará.
E só com dinheiro poderás sair da noite
para comprar o sol das manhãs que ainda não vieram
ou para comprar o direito de cantar na festa da chegada dos dias
onde moram as manhãs.
fernando