Sexta-feira, 14 de Abril de 2006

3º mundo

 

porque será que as crianças deixam de ser crianças? é uma questão em aberto em portugal, um lugar onde não é proibido maltratar as crianças. será que é um fenómeno característico do subdesenvolvimento?
devia ser possível inventar a forma de uma criança deixar de ser criança sem abandonar o mundo das crianças, para que se pudesse defender dos adultos, que não fizesse somente perguntas. mas isso não era ser criança, infelizmente isso não é possível.
um adulto é uma espécie de criança ressabiada que não soube envelhecer, que se precipitou, que fugiu, que ouviu falar que se morria, que se esqueceu de perguntar sempre e de habitar o mundo com curiosidade, pela primeira vez.
o adulto pensava que já tinha feito todas as perguntas possíveis, que já podia responder, dar conselhos, indicar o caminho, fazer uma religião à volta dele e bater nas crianças, se elas se portassem mal, maltratá-las. os adultos estão malucos. é por isso que ele, a criança que abandonou o mundo das crianças, quer voltar ao mundo das crianças. maltratar as crianças para ganhar o dia, com dinheiro no horizonte. uma espécie de jogo do monopólio das crianças com dinheiro autêntico.
o adulto é aquele que só pensa no dia que recebe o salário, o prémio do jogo, o nobel. que só pensa no seu futuro e no sistema que o gere, ao ponto de trabalhar de uma forma absurda para que ele se perpetue, longe daquilo que realmente é o ser (criança). faz isso ao ponto de se transformar num imbecil todos os dias. e no auge da imbecilidade maltrata as crianças e é desculpado por uma lei e um tribunal também imbecis.
um adulto não pode voltar a ser criança. não nasce todos os dias. salvo os esquizofrénicos. quando chega a casa ou ao trabalho e a troco de dinheiro pode maltratar uma criança? e ser desculpado? porque neste país as crianças são bodes expiatórios dos delírios materialistas dos adultos, desculpam-se os adultos como se estivessem a nascer todos os dias.
a vida deve ser honesta, depende dos problemas por resolver entre os adultos. os adultos são responsáveis, podem ser julgados, podem defender-se. já não são crianças, nunca mais irão ser. a brutalidade dos adultos deve ser resolvida entre si, as crianças não podem ser o palco do espectáculo brutal que é ser adulto e velho.

é por isso que todo o discurso acerca das crianças resulta um pouco absurdo, e ainda bem. Nas asas do desejo, o discurso do bibliotecário, em berlim , ao pé do muro e na biblioteca, dá que pensar. 

fernando


publicado por ... às 16:48
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Quarta-feira, 5 de Abril de 2006

a 40 graus de latitude norte.


lembrei-me de ti naquele dia por causa da palavra "olá",
regressar de uma noite quente e agitada de Abril tem também destas coisas.
não posso evitar lembrar-me
neste lado do mundo,
de te dizer "olá".
é que não consigo evitar as coisas que acontecem, mesmo as mais pequenas dores
ou paixões.
por isso, quando pensares em mim, pensa "está tudo bem".
não precisas de fazer a pergunta.
está tudo bem porque venho de um meio onde não se acha necessário ter ou ser uma coisa que não nos pertence.
espero não ter enganado ninguém
nem aqueles que porventura mereçam ser enganados,
nem ter alimentado expectativas e ambições desmesuradas a quem não consegue outro tipo de alimento.
quero apenas estar no mundo da forma que eu achar mais correcta.
tinha que estar tudo bem.
não tenho o direito e a obrigação de achar outra coisa acerca de mim.
as coisas são assim.
é inevitável.
começo a adoptar a máxima de que está tudo bem porque vim ao mundo
sem nada mais.
quero estar nele e sair dele sem nada.
não queria viver noutro planeta.
nem de outra forma.
vivo no melhor dos mundos,
apesar de não gostar muito da sua história.
digo isto porque é bonito vê-lo do espaço
e imaginar o que seria dentro dele se fossemos diferentes.
eu era incapaz de imaginar outro mundo com toda esta simplicidade e esta complicação.
não o faria redondo talvez.
quem imaginou este, talvez por acaso, imaginou-o bem.
talvez não tenha sido feito sequer.
talvez o imaginasse parado,
e sem vida.
não conseguiria imaginar a vida
ou evitar o sofrimento.
talvez ninguém morresse no meu mundo.
talvez não fizesse pessoas.
e se fizesse talvez não tivesse imaginação suficiente
para lhes pôr olhos que me vissem,
ouvidos que me escutassem,
ou mãos e tacto suficientes para que me pudessem abraçar e sentir.
o que digo é que há ainda demasiadas coisas bonitas no mundo
que desconheço,
que me fazem ter vontade de ainda acordar amanhã.
é pena que às vezes não saibamos aproveitar
esse dom extraordinário que é estar vivo
e ainda não ter sido preso
ou estar preso a papéis sociais que muitos de nós sentem o direito
ou a obrigação de representar quotidianamente.
Não sou actor nem autor da melhor forma das coisas aparecerem,
embora já tivesse topado que não ando aqui
para agradar aos ambiciosos.
e podes acreditar que esta luta é desigual.

fernando


publicado por ... às 09:06
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