Quarta-feira, 5 de Abril de 2006
lembrei-me de ti naquele dia por causa da palavra "olá",
regressar de uma noite quente e agitada de Abril tem também destas coisas.
não posso evitar lembrar-me
neste lado do mundo,
de te dizer "olá".
é que não consigo evitar as coisas que acontecem, mesmo as mais pequenas dores
ou paixões.
por isso, quando pensares em mim, pensa "está tudo bem".
não precisas de fazer a pergunta.
está tudo bem porque venho de um meio onde não se acha necessário ter ou ser uma coisa que não nos pertence.
espero não ter enganado ninguém
nem aqueles que porventura mereçam ser enganados,
nem ter alimentado expectativas e ambições desmesuradas a quem não consegue outro tipo de alimento.
quero apenas estar no mundo da forma que eu achar mais correcta.
tinha que estar tudo bem.
não tenho o direito e a obrigação de achar outra coisa acerca de mim.
as coisas são assim.
é inevitável.
começo a adoptar a máxima de que está tudo bem porque vim ao mundo
sem nada mais.
quero estar nele e sair dele sem nada.
não queria viver noutro planeta.
nem de outra forma.
vivo no melhor dos mundos,
apesar de não gostar muito da sua história.
digo isto porque é bonito vê-lo do espaço
e imaginar o que seria dentro dele se fossemos diferentes.
eu era incapaz de imaginar outro mundo com toda esta simplicidade e esta complicação.
não o faria redondo talvez.
quem imaginou este, talvez por acaso, imaginou-o bem.
talvez não tenha sido feito sequer.
talvez o imaginasse parado,
e sem vida.
não conseguiria imaginar a vida
ou evitar o sofrimento.
talvez ninguém morresse no meu mundo.
talvez não fizesse pessoas.
e se fizesse talvez não tivesse imaginação suficiente
para lhes pôr olhos que me vissem,
ouvidos que me escutassem,
ou mãos e tacto suficientes para que me pudessem abraçar e sentir.
o que digo é que há ainda demasiadas coisas bonitas no mundo
que desconheço,
que me fazem ter vontade de ainda acordar amanhã.
é pena que às vezes não saibamos aproveitar
esse dom extraordinário que é estar vivo
e ainda não ter sido preso
ou estar preso a papéis sociais que muitos de nós sentem o direito
ou a obrigação de representar quotidianamente.
Não sou actor nem autor da melhor forma das coisas aparecerem,
embora já tivesse topado que não ando aqui
para agradar aos ambiciosos.
e podes acreditar que esta luta é desigual.
fernando
De gabriela a 24 de Abril de 2006 às 03:07
tens uma forma muito especial de escrever. as tuas palavras têm muita força.
gabi
De
Praxa. a 21 de Agosto de 2006 às 16:36
Fernando,
continuar existindo neste mundo é, por si, tarefa que exige não só estar bem, mas procurar a realização material do bem entre os humanos: "ser do bem".
É natural a confusão do ser humano entre "ser" e "estar", como tu mesmo puseste em post passado... E saber que você "é" do bem, já trás um alívio, pois ser "mal" e ignorante é desaconselhável, mas ser "mal" e inteligente é perigoso.
Abraços luso-fraternos,
Praxa.
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